Enurese Noturna (Incontinência urinária a noite)

Corresponde à incapacidade de controlar a urina durante a noite em uma criança normal e com uma idade em que já deveria ter esse controle, ou seja, a criança  “molha a cama” durante o sono.

Considerando que o controle urinário constitui uma etapa importante no desenvolvimento neuropsicomotor e que sofre variações individuais de acordo com fatores genéticos, ambientais e psicossociais, considera-se como limite normal para controle urinário noturno, cinco anos para meninas e seis anos para meninos.

Essa condição não é rara. Acomete 15% das crianças por volta dos 5 anos, 5% aos 7 anos e 3% aos 10 anos, sendo mais comum em meninos do que em meninas. Existe uma taxa de resolução espontânea de 15% ao ano, com resolução quase total aos 12 anos de idade.

A etiologia desse problema é multifatorial e pode envolver um atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, uma baixa concentração do hormônio antidiurético, instabilidade da bexiga e distúrbio no despertar. É importante ressaltar que a hereditariedade tem uma influência importante, pois o risco de ter enurese noturna aumenta em 40% se um dos pais apresentou durante a infância.

A enurese noturna pode ser dividida em primária, quando a criança até aquela idade nunca apresentou controle urinário, e secundária, quando ela permaneceu um período de seis meses sem episódios de incontinência e, sem uma causa evidente, passou a apresentar novos episódios. O diagnóstico é feito através da história do paciente, dos antecedentes familiares, do exame clínico e de exames complementares quando há necessidade de afastar outras causas.

Cada caso deve ser analisado individualmente, levando-se em conta a forma como a criança se sente e a dinâmica da família em que está inserida. Existem opções diferentes de tratamento que variam de acordo com as características e necessidades de cada paciente. Como a criança pode adquirir espontaneamente o controle da micção, alguns pais preferem dar tempo para que isso aconteça. Em alguns casos, a enurese causa distúrbios emocionais importantes, o que motiva o início de um tratamento para acelerar o processo de melhora.

O tratamento de todos os casos deve começar com medidas comportamentais e motivacionais. Os adultos que convivem com a criança devem estar cientes que as críticas e castigos só agravam a situação. Na verdade, elas precisam de reconhecimento e reforço positivo nas manhãs em que a cama amanhece seca e estímulo para que isso continue acontecendo.

Se os resultados não forem satisfatórios, deve-se considerar o tratamento farmacológico. Alguns medicamentos mostram bons resultados, no entanto, devem ser prescritos pelo médico para controle da sua ação e esclarecimento dos efeitos adversos. É importante saber que se trata de uma opção não curativa, com ação na supressão dos sintomas. Dessa forma, há um elevado índice de recaídas após suspensão da medicação.

Existem ainda os sistemas de alarme.  Eles são formados por um detector de umidade, colocado próximo aos genitais da criança e um alarme sonoro preso na roupa na altura do ombro. Ao primeiro sinal de perda de urina, o alarme dispara, a criança acorda e deve ir ao banheiro para terminar de urinar. No início, a criança só acorda quando está muito molhada, o que melhora progressivamente até que ela consiga dormir toda a noite sem molhar a cama. Esse método exige participação da família e treinamento da criança. Ele é mais lento, mas tem menor índice de recaída, além de não ter contraindicações e efeitos colaterais.

É importante que essas crianças sejam seguidas por um Nefrologista Infantil para a abordagem eficaz da enurese noturna, antes que ela promova problemas psicológicos e danos a auto-estima da criança.

 

Dra. Larissa Nogueira

Nefrologista Infantil