Cisto no Rim – Será que devo me preocupar

DRP 2É muito comum pacientes procurarem um nefrologista para avaliação de cistos renais detectados por acaso em um Ultrassom de rim ou de abdome.

Na maioria das vezes o cisto é benigno e não causará nenhum problema para o paciente. Em alguns casos, os cistos exigirão uma investigação mais aprofundada.

Os cistos são formações arredondadas, geralmente com conteúdo líquido, que podem estar presentes em diversos órgãos como os rins, fígado, pâncreas, etc.

Existem várias doenças renais que podem levar ao aparecimento de cistos, algumas possuem uma predisposição genética, outras são adquiridas ao longo da vida. Podem acometer desde recém nascidos até idosos. Neste texto focaremos apenas nas doenças que acometem os adultos.

Cistos Simples

DRP 3Os cistos simples são lesões benignas adquiridas, que ocorrem com frequência em pessoas acima dos 50 anos, sendo rara sua ocorrência em crianças. Não apresentam potencial de se transformar em tumores.

Podem ser únicos ou múltiplos e aparecer em 1 ou nos 2 rins. Na grande maioria dos casos não provocam sintoma nenhum, mas eventualmente podem causar dor lombar e pequenos sangramentos na urina.

Quando atinge um tamanho maior, o cisto pode ser palpado através da parede do abdome. Raramente, o cisto pode ser infectado por bactérias, sendo necessário o tratamento com antibióticos e a drenagem cirúrgica do cisto.

O diagnóstico do cisto simples é feito através de um exame de imagem dos rins, geralmente Ultrassom ou Tomografia. Um cisto simples apresenta paredes finas e regulares, sem septos ou calcificações no seu interior.

Não há indicação de tratamento para pacientes assintomáticos com cistos simples. Caso o cisto seja muito grande e esteja causando dor, podemos drená-lo cirurgicamente ou através de uma punção guiada por Ultrassom.

Diferenciar os cistos simples de outras doenças císticas como a Doença Renal Policística (DRP) é extremamente importante, pois a DRP apresenta uma maior gravidade e exige cuidados específicos.

Cistos Complexos

Um cisto é chamado de complexo quando possui características sugestivas de tumor, o que exige um acompanhamento periódico com um urologista.

Os cistos complexos podem ser diagnosticados por Ultrassom, mas é através da Tomografia Computadorizada que se visualiza melhor suas características. São cistos de paredes grossas e irregulares, com septos, calcificações ou conteúdo sólido no seu interior.

Através da tomografia pode-se dividir os cistos complexos de acordo com a classificação de Bosniak. O cisto Bosniak I é um cisto simples, portanto benigno, enquanto que o cisto Bosniak IV é maligno e deverá ser retirado cirurgicamente.

Doença Renal Policística Autossômica Dominante

A Doença Renal Policística Autossômica Dominante (DRPAD) é uma doença genética caracterizada pela presença de múltiplos cistos nos 2 rins, além de cistos em outros órgãos como fígado e pâncreas.

Os cistos da DRPAD são causados por uma mutação genética que alteram uma proteína chamada Policistina, presente nas células dos túbulos renais.

O aparecimento dos cistos geralmente se inicia na infância e aumentam em número e tamanho com o passar dos anos. Um rim policístico pode ter mais que o dobro do tamanho de um rim normal.

Os cistos começam a ocupar o lugar de tecido renal sadio, levando o paciente a desenvolver Doença Renal Crônica, a complicação mais temida da DRPAD.

Devido as distorções da estrutura renal pelos cistos, os pacientes também ficam mais predispostos a desenvolver infecções urinárias e cálculos.

Como diagnosticar a DRPAD ?

Se o paciente possui algum familiar portador de DRPAD, um simples ultrassom renal já poderá confirmar o diagnóstico. De acordo com o ultrassom, são considerados portadores de DRPAD:

  • Idade 15 a 29 anos: presença de pelo menos 3 cistos renais, em 1 ou nos 2 rins
  • Idade 30 a 59 anos: pelo menos 2 cistos em cada rim
  • Idade acima de 60 anos: pelo menos 4 cistos em cada rim
  • Pacientes com idade superior a 40 anos que possuírem 2 ou menos cistos NÃO são portadores de DRPAD

ATENÇÃO: Esses critérios somente são válidos para os pacientes acima de 15 anos com história familiar positiva para DRPAD.

Já os pacientes com cistos renais sem uma história familiar de DRPAD devem ser submetidos a um exame de imagem renal mais detalhado, como tomografia ou ressonância, a procura de cistos menores não visualizados pelo ultrassom.

Outra opção seria a identificação da mutação genética, porém é um exame com custo mais elevado e disponível apenas em laboratórios especializados.

Como a DRPAD costuma ser silenciosa por muitos anos, é importante fazer o rastreamento de parentes de 1o grau dos pacientes portadores da doença logo após o seu diagnóstico.

A detecção precoce da doença é essencial para que medidas preventivas sejam tomadas na tentativa de retardar a progressão da Doença Renal Crônica.

Conheça as principais manifestações da DRPAD

A DRPAD é uma doença que permanece silenciosa por muitos anos e costuma causar sintomas somente em fases mais avançadas. Pode afetar vários órgãos além dos rins, como fígado, pâncreas, cérebro e coração.

Confira aqui suas principais manifestações:

  • Hipertensão Arterial (pressão alta): é a manifestação mais comum, considerada um fator de risco importante para a progressão da doença para fases terminais
  • Dor lombar: geralmente de início súbito, causada por hemorragia ou infecção de um cisto, pela migração de um cálculo ou pela própria expansão do cisto.
  • Doença Renal Crônica (DRC): nem todos os pacientes portadores de DRPAD evoluirão com DRC dialítica. Fatores como o sexo masculino, um grande volume renal e diagnóstico da doença antes dos 30 anos são considerados de risco para evolução. Quando a DRC progride para uma fase avançada, será necessário iniciar hemodiálise.
  • Sangramento na urina: sintoma muito frequente, ocorre em mais de 40% dos pacientes com DRPAD. Pode ser decorrente de hemorragia de um cisto, infecção urinária, migração de um cálculo ou tumor.
  • Infecção Urinária
  • Cálculo Renal: ocorre em aproximadamente 20% dos pacientes. Além da distorção da anatomia renal, fatores como o pH urinário mais ácido e uma baixa concentração de citrato na urina favorecem a formação de pedras (Saiba mais sobre o cálculo renal).
  • Aneurisma Cerebral: a maioria é assintomático. Seu diagnóstico é feito através de uma Angiotomografia ou Angiorressonância dos vasos cerebrais.
  • Cistos no Fígado: não costumam provocar sintomas a não ser que estejam muito grandes e começam a comprimir as estruturas ao redor como o estômago.
Saiba mais sobre o tratamento da DRPAD

Infelizmente a DRPAD não tem cura e os tratamentos disponíveis atualmente apenas tentam retardar a progressão da doença. Por isso muitos pacientes acabam evoluindo com perda completa dos rins e necessidade de hemodiálise.

Todo paciente com DRPAD deve ter sua pressão arterial bem controlada e não deixar que ultrapasse 130 x 80. Existem alguns medicamentos anti hipertensivos que são mais indicados nesses casos, pergunte ao seu nefrologista.

Com relação a dieta, pacientes com DRPAD devem consumir menos sódio (sal) e evitar ingerir proteínas em excesso. Os pacientes também devem restringir alimentos/bebidas com cafeína, estudos mostram que ela pode aumentar o tamanho dos cistos.

Alguns trabalhos mostram que a elevada ingestão de água pode retardar a progressão da doença. Porém, pacientes que já apresentam uma baixa filtração renal, não devem seguir esta recomendação.

Um medicamento que tem se mostrado promissor nos estudos é o Tolvaptan. Ele age reduzindo o crescimento dos cistos e possivelmente pode retardar a progressão da doença para estágios terminais. Ainda não está disponível para comercialização no Brasil.

Um outro medicamento em estudo para tratamento da DRPAD é o Sirolimus. Essa medicação já é usada em pacientes transplantados, porém sua eficácia nos pacientes com DRPAD ainda não está comprovada.

Naqueles pacientes que progridem para Doença Renal Crônica fase avançada, existe a opção do transplante renal. O processo de transplante pode ser iniciado antes do paciente entrar em hemodiálise, caso possua um doador vivo compatível.

Para aqueles que não possuem doador vivo, a única opção de tratamento acaba sendo a diálise. O paciente poderá então ser inscrito para transplante com doador falecido.